A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

A Liberdade – Por Luiz de Souza

Liberdade, têm-na os animais inferiores, nas selvas. No gênero humano, no caso do silvícola, essa liberdade começa a diminuir quando é obrigado a prestar obediência a um chefe, o qual, por sua vez, também dá submissão, como exemplo, aos preceitos estabelecidos.

À medida que o ser passa, de grau em grau, a subir a escala da evolução, vai se submetendo aos princípios da moral, deixando de fazer o que não convém, para seguir a voz da consciência, cada vez mais nítida e imperativa.

O cerceio da liberdade é um bem, sempre que usado no sentido de conter o mal. E por mal se compreende tudo aquilo que contraria as boas normas de viver, pautadas pelas leis Supremas e Universais.

Todos devem, por isto, satisfazer se com a liberdade relativa que possuem, procurando viver uma existência controlada e pacífica.

As leis foram criadas, precipuamente, para regular a liberdade, para impedir que qualquer um tome o freio dela e pratique o que quiser. Um mundo sem leis, seria um mundo selvagem. Logo, uma vez que as leis são indispensáveis, a liberdade tem de ser dosada e limitada nas suas manifestações.

Há um estado de elevação espiritual em que as leis terrenas seriam dispensáveis ao indivíduo, em virtude de tal equilíbrio moral já haver conquistado e tal poder de consciência adquirido. Para esse, essas leis poderiam ser consideradas como supérfluas, mas, já aí, ele obedece a outras leis, leis cósmicas, que se aplicam nos planos siderais e que precisam ser rigorosamente observadas, para que o Universo se mantenha na sua marcha normal: são as leis da espiritualidade.

Nessa circunstância, o anseio do ser é de tal forma consciente, que a sua liberdade de ação coincide, rigorosamente, com a necessidade, não havendo, pois, desejos contrariados, contenções ou limitações.

Enquanto, porém, estiverem os seres sujeitos à evolução terrena, precisam conformar se com a liberdade relativa que desfrutam. Ela será usufruída por cada pessoa, na medida do seu adiantamento espiritual, da sua capacidade de realização, do seu merecimento e das condições previstas para a sua evolução.

As esposas e mães têm a sua liberdade grandemente cerceada, mas em holocausto a uma missão dignificante. Do mesmo modo, as crianças têm a liberdade também limitada, em favor de uma melhor educação e maior estabilidade. Sem exceção, os chefes de família, no seu devotamento ao lar e ao trabalho, subjugam toda e qualquer idéia de liberdade que prejudique essa dedicação.

Assim, os seres em evolução na Terra só poderão alcançar uma parcela de liberdade no decorrer da existência, e deverão julgar se felizes por estarem sujeitos a essa restrição redentora, que opera em favor da coletividade e, particularmente, em benefício de cada um.

A opressão é uma medida violenta de supressão da liberdade, e é preciso que um povo tenha errado muito para, ainda que transitoriamente, merecer essa cota de sacrifício. Os erros desse povo não podem ser contados, apenas, pelas ocorrências da encarnação em que se manifestou o fenômeno, mas pelo acúmulo deles, carreados de vidas passadas. Os governos de opressão, despóticos ou ditatoriais, atuam como cataclismos.

Ninguém poderá vangloriar se de que é livre para fazer o que bem entenda, porque essa liberdade mal empregada, ou lhe custará muito cara, ou será reduzida, mais tarde, a expressões mínimas, se não se der o caso de ter de passar pelas duas experiências, concomitantemente.

Muito cuidado é necessário tomar com fanfarronices, com jactâncias, porque tudo quanto pensarmos ou dissermos, fica gravado no éter, sem possibilidade de se apagar. Desse modo, o que se disser não poderá ser desdito, e há sempre responsabilidade nas afirmações e nos pensamentos emitidos.

Quem tem contas a saldar na Terra   e todos as têm, maiores ou menores   não poderá gabar se de ser livre ou de gozar de plena liberdade, porque o tempo se incumbirá de provar o contrário.

O Racionalismo Cristão ensina que todos deverão ser ponderados e comedidos para não se externarem de modo leviano, e terem de sofrer as consequências.

Refreando a liberdade, é indispensável que os estudantes desta Doutrina aprendam a dominar principalmente estes três dons:   o da vista, o da audição e o da fala. Às vezes é conveniente, ver e não ver; ouvir e não ouvir; conhecer mas não falar, pois quantas vezes "o silêncio é de ouro", como diz o aforismo!

A liberdade plena não faz falta a quem sabe conduzir se com elevação, entendimento e amor cristão. Todos trazem planejadas as linhas mestras da sua trajetória terrena, da qual não faz parte essa liberdade.

Os seres dependem todos uns dos outros e, se assim não fosse, não haveria necessidade da presença no mundo de alfaiates, costureiras, padeiros, agricultores e de toda essa ordem inumerável de artífices, cada qual fazendo a sua parte no serviço da coletividade; se há dependência, não existe liberdade ampla.

A falsa idéia da liberdade, faz com que o ser se coloque um pouco à parte do conjunto humano; essa idéia desenvolve uma percentagem de egoísmo, uma certa superioridade que não pode existir.

A simplicidade deve ser adotada como lema. De preferência, estimule se a simpatia por aqueles que possuem dose menor na parcela de liberdade, por estarem suportando uma carga mais pesada.

Embora seja contida a liberdade nos limites de uma parcela, todo esforço deve ser empregado para dilatar esses limites, adquirindo o ser o preparo espiritual que o fará merecedor desse prêmio. O raciocínio leva sempre a reconhecer que a chave do progresso e o segredo do êxito estão na espiritualização. Nenhuma oportunidade deverá ser perdida para alcançar essa conquista. O Racionalismo Cristão foi trazido à Terra com a finalidade de oferecer esse ensejo àqueles que o desejarem e tiverem o espírito amadurecido para participar dessa oportunidade.

Quanto mais se aproxima o indivíduo do estado de perfeição, que é a sua meta, tanto mais consciente vai se tomando do verdadeiro sentido da vida, e menos capaz se revela de cometer um ato fora da lei que não esteja sob seu completo controle, sem levar em nenhuma conta o princípio da liberdade.

O ser humano possui a liberdade identicamente ao livre arbítrio, para aprender a não fazer uso dela fora de limitadas condições, e essa aprendizagem é obra de milênios. Por isso, o conceito de liberdade relativa ou absoluta precisa estar sempre presente nas mentes humanas, para que nunca se excedam as pessoas na satisfação dos seus desejos.

A Liberdade
Por Luiz de Souza
Fonte:
Biblioteca Digital do Racionalismo Cristão

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