A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

O Preconceito - Por Luiz de Souza

Preconceito é o conceito formado sem fundamento razoável. É o caso, para exemplificar, do preconceito racial. Estabelece-se que esta ou aquela raça é inferior ou superior, e daí nasce uma falsa superioridade ou um complexo de inferioridade.

A cor da pele não representa a cor do espírito; esta vária, conforme os seus atributos reveladores do grau de evolução, ao passo que aquela é uma condição da matéria, exclusivamente, e com a matéria fica, na Terra, depois da desencarnação.

Não há espíritos de brancos ou de negros, ou de amarelos, muito embora as raças correspondam a agrupamentos que processam a sua evolução em conjunto, debaixo de certas circunstâncias específicas, e que possuem uma natureza espiritual que é, aproximadamente, comum a todos os seus membros.

É grave erro, porém, menosprezar esta ou aquela raça, desdenhar do indivíduo que pertença a um grupo racial injustificavelmente tachado de inferior. Para corrigi-lo, é comum o seu autor vir, na próxima encarnação, a possuir um corpo racial idêntico àquele que menosprezou. Terá, então, de sentir na própria carne, para abatimento do seu orgulho, a humilhação com que pretendeu ferir ou feriu o seu semelhante.

Esse fato se dá, não por represália ou castigo, mas pela necessidade de destruir-se no espírito aquele defeito pernicioso – o orgulho que entrava a evolução. É o próprio desdenhador que, quando em seu plano astral, deseja sujeitar-se a essa prova, consciente da sua indispensabilidade e certo de que será o melhor meio de depurar-se da revelada inferioridade.

Por isso, numerosos negros foram brancos desdenhosos em encarnações anteriores, aí estão na sua faina depuradora e voltarão a ser negros quantas vezes forem necessárias, até ficar reduzido a zero o seu preconceito racial, velado ou ostensivo.

A evolução dos indivíduos processa-se, regularmente, na esfera de cada uma das raças. A criatura, no ambiente da sua própria raça, colhe as experiências que lhe estavam reservadas naquele meio. Não se deve procurar fugir às determinações imperativas de cunho expressivo, como sejam as de bem cumprir-se a tarefa no posto em que se tenha colocado. Assim, cada qual, na sua raça, tem a sua tarefa específica.

Não há também razão para recriminar-se alguém pelo fato de haver-se unido a outrem que não da mesma raça. Pode dar-se o caso de serem, ambos, almas afins que se encontram e têm ligações remotas de afetuosidade recíproca; podem ser criaturas integrantes do mesmo grupo espiritual esporadicamente encarnadas em corpos de raças diferentes. Estes terão de enfrentar a corrente desdenhosa do preconceito racial, enquanto ela existir.

O normal é unirem-se as pessoas da mesma raça, por isso que, antes de encarnar, escolheram aquela que melhor deveria servir-lhes, incluindo-se, nesse plano, a constituição da família, sem quebra da tradição racial.

As diferentes raças podem e devem elevar-se por si, valorizando-se, cada vez mais, através do esforço próprio, da dignidade pessoal e da capacidade, que é inata no indivíduo. Não há motivos para que as raças branca, amarela ou preta não alcancem, cada qual, o seu apogeu, uma vez que espiritualmente são compostas da mesmíssima essência espiritual, que é a fonte única de emanação, da Força Criadora.

Acontece que as raças podem evoluir umas mais rapidamente que outras, ou ainda, que umas são mais antigas do que outras, na contagem dos milênios decorridos. Isso, no entanto, não dá direito a ninguém de fazer pouco daqueles que se encontram na vida em condições menos favoráveis, em consequência do seu estado de menor evolução.

Todos são partículas da Inteligência Universal, pertencem à mesma família cósmica, marcham para o mesmo fim e são detentoras das mesmas heranças espirituais.

Por isso, qualquer espírito, se isso for necessário ou útil à sua evolução, pode reencarnar várias vezes em cada uma das raças existentes no globo; esse fato não impede que alcance a evolução máxima, da mesma maneira que outro, que não tenha feito tais incursões raciais.

A falta de espiritualidade faz com que as criaturas, imersas no oceano do materialismo, pensem que a alma nasce juntamente com o corpo humano ou físico, e, portanto, a criança, ao vir ao mundo, se é preta, terá a alma preta, se branca, a alma branca, e assim por diante, com respeito a cada raça.

Essa é a concepção da maioria daqueles que nada sabem e nem querem saber sobre a verdade a respeito das reencarnações.

É evidente que se a alma não reencarna, mas nasce, com o embrião, no ventre materno, então aquela “lógica inverossímil” que induz à crença de que a alma tem a cor do corpo a que pertence, simboliza, com exatidão, a concepção materialista reinante. É nessa imagem que se apoia o preconceito racial.

Quantos são aqueles que, menosprezando um ser de raça tachada de inferior, estão humilhando o espírito de quem, em outras vidas, poderia ter sido a sua mãe, a sua irmã, filha, ou outro ser afim! O materialista e o religioso nunca pensam nisso, porque esse fato verdadeiro não ocupa lugar em suas mentes, pois tanto um como o outro se mantém completamente alheios ao que se passa na esfera dos acontecimentos espirituais.

Não conhecer, na sua pureza, na sua sabedoria, na sua maravilhosa idealização, a lei das reencarnações, é ter ante os olhos uma venda que impede ver a luz solar.

Nos países em que a religião exerce poder quase fanático, é também onde a ideia do preconceito racial tem as suas raízes mais profundas. Ali, o preconceito racial assume proporções escandalosas, que chegam a envergonhar.
Graves consequências irão trazer para os seus autores, as atitudes injuriosas emanantes do preconceito racial.

Outra faceta do preconceito, é a de que as suas manifestações não se acham revestidas de um princípio de lógica, e descambam, não raras vezes, para a superstição. Assim, exemplificando, o receio do número 13 é um preconceito, uma superstição. Logo, o preconceito também resvala pela mística, e leva a criatura a formar imagens mentais fantasiosas.

É necessário, pois, eliminar o preconceito de todas as cogitações, para tudo ser encarado de forma real, racional e profunda, sem se deixarem levar as pessoas por ideias preconcebidas, de nula substância.

O preconceito decorre de um hábito de ver as coisas de um ponto que fornece ângulo estreito de visão, com ausência plena do consenso espiritualista, o qual se contrapõe a qualquer ilusão ou forma irrealista.

O preconceito limita a liberdade, tolhe a criatura e exerce uma ação dominante sobre o seu espírito. Todos precisam ser livres, espiritualmente, conhecer a Verdade e viver sob a sua Luz.

Os religiosos atêm-se, de um modo geral, a preconceitos, que se fundam na malícia com que encaram certos aspectos da rotina da vida. O preconceito sexual leva o sacerdócio ao celibato, de onde decorrem os mais lamentáveis males.

Em lugar da educação sexual necessária e racional que o ser humano deve impor a si mesmo, procuram envolver os problemas do sexo, por simples preconceito, num mistério vergonhoso e inabordável. É este um preconceito tão arraigado na alma humana, que só com o tempo poderá ser extirpado. A ideia de inspirarem vergonha os órgãos sexuais, nenhuma razão tem.

O que há é malícia, preconceito e falta de compreensão elevada. O vício e a vergonha que ele pode causar são motivos pelos quais a criatura se abstém de penetrar nesse terreno, mas isso porque desde pequena vem sendo conduzida de maneira a não enfrentar, com naturalidade e higiene mental, o problema sexual.

Meninos e meninas devem receber dos seus pais e dos professores o ensinamento capaz de orientá-los, varrendo da mente o mistério e instruindo-os a respeito da perpetuação da espécie, como um ato sublime, criado pela própria Inteligência Universal. Assim se dará um golpe de morte no preconceito, as mentes se comportarão higienizadas e os vícios serão substituídos pela virtude inata, que está latente em todo indivíduo.

É o animalismo humano, ou o instinto animal do homem, aflorado, de modo mais ou menos exacerbado, que convida ao abuso e ao vício. Deve-se reconhecer que o instinto animal inferior, atuante no homem, perde a sua exaltação inquietante, incontrolada, decrescendo com o desabrochar da espiritualização, que traz outras recompensas acentuadamente valiosas.

O preconceito está intimamente ligado ao fato de não contar o indivíduo com lastro espiritualista, pois há uma série de recursos que o eliminam, no campo da espiritualidade.


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Cai o preconceito com a marcha do indivíduo para cima, para planos mais altos da espiritualidade, em que a fraternidade se expressa de maneira ampla e digna, compreensível e amorável, verdadeira e leal. Para cada criatura, a morte do preconceito está marcada, porque a evolução, certa e obrigatória, ninguém pode deixar de fazer, abandonando os costumes perniciosos, para aceitar novas concepções de vida e de amor.

O Preconceito
Por Luiz de Souza

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