A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

Espiritualismo - Por Luiz de Souza

É sempre um perigo para o homem andar fora da lei. As leis do mundo podem ser encontradas nos Códigos, mas as leis espirituais somente se aprendem com o estudo do espiritualismo. Por qualquer ângulo que se observem os males sociais, as conclusões são sempre as mesmas: falta de espiritualidade.

Dentro das regras da espiritualidade, encontram‑se os seguintes preceitos:

1‑ Não lesar nunca o semelhante, muito menos em benefício próprio.

2‑ Não contribuir para o encarecimento da vida, por meio de lucros escorchantes;

3‑ Procurar sentir‑se membro da família humana, como elemento cooperativista;

4‑ Ser apóstolo do trabalho, realizando‑o com fraterna compreensão;

5‑ Pugnar pela moralidade dos hábitos e costumes;

6‑ Elevar o conceito da família ao mais alto grau;
7‑ Manter‑se em dia com as suas obrigações e deveres, não exorbitando da sua autoridade;

8‑ Conservar ativos todos os seus atributos morais superiores, procurando dar‑lhes uma expansão cada vez maior,

9‑ Converter o mal em bem, na maior proporção dos recursos pessoais;

10‑ Viver em cada dia, distintamente, material e espiritualmente, sendo fiel cumpridor das leis eternas de Amor, Harmonia e Paz;

11‑ Revigorar, com esforço constante, a sua posição junto às correntes do Astral Superior;

12‑ Certificar‑se da sua unidade com o Todo, através do estudo, do raciocínio e da meditação.

Nada adianta o indivíduo eximir‑se de participar do concerto espiritual, uma vez que ele próprio é espírito, e não pode renegar a sua natureza. Logo, não há razão para iludir‑se, agarrando‑se às quiméricas oferendas terrenas, cujo valor se esvai com a sua passagem rápida pela Terra, em cada existência. O homem terreno luta sem obter nada de efetivo, enquanto o espiritualizado trabalha pelos tesouros do espírito, que são eternos e se acumulam com o perpassar do tempo.

O preceito de "não lesar nunca o semelhante, muito menos em benefício próprio", resulta da necessidade de vencer o egoísmo cego, que leva a criatura à prática de atos vergonhosos de espoliação, de usurpação e outros, com o intuito de beneficiar‑se. Benefício louco é esse assim conquistado, que se converterá em malefício, para a desgraça do agente, que terá em condições lastimáveis, de devolver tudo quanto usurpou, em dias futuros, ou, mais propriamente, em encarnações futuras.

Ele não poderá jamais levantar os olhos perante a sua consciência enquanto, não saldar, a peso de ouro, o último centavo do seu débito malfadado.

Quem espolia o semelhante, espolia a si mesmo, porque terá de sentir na própria carne o efeito da espoliação causada a outro, por onde se confirma que quem mal faz, para si o faz.

Os ignorantes da Verdade, que desconhecem a Vida espiritual, não acreditam na lei de causa e efeito, enquanto ela não despencar sobre as suas cabeças. Na realidade, ao receberem a carga de retorno dos males que praticam, não saberão atinar com a causa, mas depois da desencarnação, quando forem conduzidos ao mundo próprio, verão ali, com todas as cores, a conseqüência desastrosa dos seus crimes.

Aquele segundo preceito de não contribuir para o encarecimento da vida, por meio de lucros escorchantes, visa chamar a atenção dos organizadores de trustes, especuladores desalmados que costumam arrematar nas fontes produtoras, por preços regateados, gêneros alimentícios de primeira necessidade, conservando‑os em depósito até que se esgote o estoque da praça, para, então, como senhores absolutos do mercado, liberarem o artigo por preços exagerados. Ganham, por meio desse processo indecoroso, rios de dinheiro à custa da pobreza daqueles que enfrentam os maiores sacrifícios, para manter a família.

Esses indivíduos, conhecidos na gíria por tubarões, são criminosos que imporão a si mesmos, depois de ascenderem aos seus mundos de luz e verificarem, horrorizados, todo o mal que fizeram, uma vida de penúria, nas próximas encarnações. Se esses infelizes soubessem que triste futuro estão preparando com esse tipo de desonestidade, por certo enveredariam por outro caminho.

Ao sentir‑se o indivíduo membro da família humana, como elemento cooperativista, estará dando um passo decisivo no reconhecimento da sua posição no Universo como parte integrante do Todo, partícula da Inteligência Universal. Esta compreensão faz o ser mudar o seu modo de sentir e de viver, elevando‑se.

Todo trabalho, na Terra como no Espaço, tem caráter cooperativista. Ninguém pode trabalhar só para si, e o importante é reconhecer essa verdade. Quando a criatura se convencer de que está trabalhando, continuamente, para outros, e que estes, de igual modo, trabalham para ela, começará a perceber que o Trabalho é uma Unidade, e que cada um faz uma pequena parcela dele.

Essa idéia real mostra claramente o espírito cooperativista do trabalho e o papel que todo ser deve desempenhar, como membro de uma grande família humana que, se fosse esclarecida, seria fraterna e solidária.

Ser apóstolo do trabalho, realizando‑o com fraterna compreensão, é sentir a missão de que todos estão revestidos. O encargo mais humilde pode ser entendido como uma missão, uma tarefa reservada, uma atribuição especial que precisa ser feita por aquele indivíduo a quem foi destinada, para um fim expresso e, quase sempre, oculto, mas o bem.

Ser apóstolo do trabalho, é reconhecer nele o seu fado edificante e tornar‑se exemplar na sua execução, e defensor e propagador dos seus méritos, concorrendo para o enobrecimento do espírito.

Realizá‑lo com fraterna compreensão, é tratá‑lo com valor igual na sua distribuição pelos seres, para que cada um contribua, com a sua parte, com a sua habilidade, num esforço comum.

Numa orquestra em que tantos instrumentos diferentes tocam juntos para produzir uma combinação harmônica de sons, nenhum músico pode desafinar sem prejuízo do conjunto, e todos eles ficam atentos, solidários, empenhados na boa execução da peça musical, fraternalmente unidos para um mesmo fim, e dependentes uns dos outros. Na orquestração da vida, repete‑se o fenômeno.

Pugnar pela moralidade dos hábitos e costumes, significação vigilante e doutrinária, em que têm assento os bons conselhos, a boa conduta, e devam sempre imperar os princípios da moral cristã. É fazendo uso da palavra, da pena e dos exemplos, que se pugna pela moralidade dos hábitos e costumes, cujos reflexos edificantes atingem diretamente os lares.

Se todos se dispusessem a pautar o seu viver pela moralidade ampla, a transformação do mundo se operaria, prontamente, para a felicidade de seus habitantes, pois é a falta do senso da moral que conduz homens e mulheres aos despenhadeiros da vida.

A maioria não faz o menor esforço para reformar os maus hábitos, preferindo prosseguir na inconsciência dos insucessos que arma, caminhando à maneira das reses que seguem para o matadouro.

Impera, realmente, o animalismo por toda parte, pois o que se vê muito de perto é a preocupação única pelo corpo físico e suas solicitações aguçadas, pouco se importando as criaturas como o que é principal e fundamental: ¾ a vida do espírito.

Elevar o conceito da família ao mais alto grau, é desenvolver o patrimônio moral do País. Para elevar esse conceito é preciso que todos os seus membros se compenetrem da importância da Família no seio da coletividade. A Família é um agrupamento espiritual de seres que se completam para um mesmo fim. É no lar ¾ habitação da Família ¾ que se forjam os caracteres, que se formam as personalidades, que se preparam homens e mulheres para todos os momentos da vida.

É preciso que essa célula energética, a Família, seja bem constituída, sadia, uniforme, respeitadora e respeitada. Cada membro dela deverá dar o seu quinhão de valor para a sua elevação. Todos unidos, irmanados, ligados por sentimentos afins, devem defendê‑la, intransigentemente, contra quaisquer investidas que tentem diminuí-la.

Para isso, deverão servir‑se da força moral, do passado limpo, dos exemplos merecedores de alto crédito e da conduta modelar. Eleva, o conceito e a estrutura da Família, é uma obrigação imperiosa que pai, mãe e filhos, indistintamente, devem cumprir. A prática de espiritualidade inicia‑se no meio familiar e desenvolve‑se no ambiente social.

Manter‑se em dia com as obrigações e deveres, não exorbitando da sua autoridade é lembrar‑se daquele ditado: "não deixes para amanhã o que puderes fazer hoje" Além disso, é ser pontual nos seus horários, nos pagamentos e demais compromissos, e estar atento para não deixar faltar o necessário na vida de relação, tanto no lar como no trabalho; é ter disciplina, ordem e método, e saber controlar as suas atividades, despesas e saúde; é viver em harmonia, criando um clima saudável ao seu redor, pelo bom‑humor, a serenidade e a prudência.
Não exorbitar da autoridade, é não se prevalecer da sua eventual superioridade terrena, para fazê‑la sentir aos que estiverem em posição inferior.

A autoridade mantém‑se pelo valor pessoal, pelos exemplos e pela ação criteriosa. As feições carregadas podem infundir temor, mas não respeito, consideração e amizade, como é de desejar‑se. Ao ser verdadeiro e sincero, estará o indivíduo enquadrado neste lema, e adotando normas básicas para a fiel observância da vida espiritual.

Quanto se recomenda conservar ativos todos os seus atributos morais superiores, dando‑lhes, quanto possível, maior expansão, reconhece‑se que todo ser tem, em potencial, atributos morais elevados, que já se revelaram, em parte, ou hão de revelar‑se.

O que se aconselha é que se faça o possível para eles se revelarem e expandirem com a maior brevidade, para não se constatarem retardamentos prejudiciais.
Uma vez que esses atributos precisam ser despertados e estimulados, convém que se dê inicio, quanto antes, a esse processamento, para evitar que tenham de ser acordados da sonolência pelo sofrimento. O fato de serem conservados ativos, indica que se tornarão vigorosos pelo exercício continuado.

Converter um mal em bem, na maior proporção dos recursos pessoais, é, como ensinou Jesus, pagar o mal com o bem, não alimentar ódios, malquerenças nem ressentimentos.

O ser que pratica o mal, conscientemente, vive ainda no primitivismo da vida, em estado de grande ignorância espiritual, e se puder ser ajudado para livrar‑se das trevas por onde anda, será um grande benefício para quem o ajuda e para ele mesmo. Uma vez que todos fazem parte da grande família humana, é racional que esse membro dessa família, embora atrasado, receba lição afetuosa e oportuna que o auxilie a encontrar o caminho do progresso.

Viver, em cada dia, distintamente, material e espiritualmente, como fiei cumpridor das leis eternas do Amor, Harmonia e Paz, significa que havendo horas para tudo, não se misturem os afazeres materiais com os espirituais, nunca mercadejando com as coisas do espírito.

As leis eternas que regulam a Vida Universal, são naturais e imutáveis, e contrariá‑las é errar, é ferir‑se, é provocar sofrimento, é retardar a evolução obrigatória.

O amor, a harmonia e a paz são dons que se cultivam e desenvolvem culminando com a felicidade, e integram‑se nas leis da Sabedoria. Para ter amor, harmonia e paz na alma, é indispensável que o ser aprenda a viver também no plano da espiritualidade.

A maneira de a criatura revigorar, em esforço constante, a sua posição junto às correntes do Astral Superior, é saber irradiar a ele, em horas próprias, ajustando‑se ao contato com essas Forças do Bem.

Essa prática é indispensável a quem se dedica a viver menos para a matéria e mais para o espírito. Ninguém deve julgar, dentro da sua simplicidade, que nada vale, e que no Astral Superior não haverá quem se interesse por ele.

É um engano pensar assim. Os encarnados já fizeram parte de milhares de famílias, nas milhares de encarnações passadas, e nem todos os componentes dessas famílias estão encarnados; além disso, se no mundo há regras e disciplinas a que todos estão sujeitos, no Plano Astral essas regras e disciplinas são mais apuradas. Assim, nenhum ser vive isoladamente, mas ligado não só à família terrena, como à grande Família Astral.

Certificar‑se da sua unidade com o Todo através do estudo, do raciocínio e da meditação, é reconhecer‑se como Força e Matéria, os dois elementos de que se compõe o Universo. Uma vez realizada essa concepção, a idéia de Deus se confunde com a da Inteligência Universal, não havendo mais possibilidade de visualizá‑la na figura vulgar de um ser humano.

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Todos possuem a mediunidade intuitiva, e esta se desenvolve com o desabrochar da espiritualização. E por meio dessa faculdade que se estabelece o contato espiritual com as Forças Superiores, e se recebe aquilo que se chama inspiração ou intuição.

O Espaço está impregnado de pensamentos emitidos pelos incontáveis Espíritos que o ocupam, e como os pensamentos afins se atraem, tem o ser a possibilidade de, por meio da intuição, pôr‑se em ligação com os pensamentos de idêntica vibração, e receber a solução para os seus problemas, com a ajuda do raciocínio.
Poder‑se‑ia dizer que a humanidade sofre porque quer, uma vez que se dedicasse à espiritualidade, a maioria dos sofrimentos nela não encontraria guarida.

Mas há de reconhecer‑se que as seitas materialistas iludiram, por tal forma, as massas de crentes e fiéis, que se torna difícil a estes abandonarem as esperanças fagueiras que lhes são acenadas, para aceitar a Verdade crua e nua da espiritualidade. Por isso se fazem surdos e esconjuram quando o que se diz não afina com as afirmações dogmáticas estabelecidas.

A espiritualização não pode ficar restrita a palavras. Ela exige ação, seja pelo exercício, seja pelo estudo ou pelo exemplo, e sempre haverá alguma forma de praticá‑la ou externá‑la. No Racionalismo Cristão existe essa prática, à qual se dedicam os estudiosos da Doutrina, que é efetuada em complemento aos seus ensinos.

Quando se fala em espiritualização, alguns pensam que se trata de invocação de espíritos, por associarem a palavra espírito à espiritualização. Ignoram esses, lamentavelmente, que são, como os demais, apenas espíritos, e que a aparência física passageira não pertence à estrutura espiritual.

Espiritualização é um estado da alma cada vez mais propenso a reconhecer, segundo o progressivo desenvolvimento, o seu verdadeiro "eu" espiritual, a natureza real do ser. Espiritualizar‑se é procurar encontrar a Verdade por trás de todas as ilusões.

Diante desta linguagem leal e confraternizadora, não há como pretender alguém desviar o verdadeiro sentido desta exposição para esquivar‑se de reconhecer a verdade exposta. Não tem a Doutrina Racionalista Cristã o menor interesse em dizer uma coisa por outra, porque não busca nenhuma vantagem para si nem precisa de coisa alguma por via de solicitações. Com esta independência moral, tem autoridade para apresentar os seus ensinamentos liberalmente, sem esperar retribuições.

Espiritualismo
Por Luiz de Souza
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