A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

Esferas de Ação - Por Luiz de Souza

O espírito, quando encarna, traz, ao menos, uma vocação. O que deve fazer, então é aperfeiçoá-la, no correr da existência. É fato notório que o indivíduo sente prazer em trabalhar dentro de sua especialidade.

Todos devem trabalhar contentes com a sua profissão, porque assim vivem melhor e mais alegres. O bom humor, todos o sabem, é fator de saúde.

Às vezes o indivíduo tenta mudar de profissão, com a idéia de ganhar mais, seduzido pela prosperidade material alheia, supondo que a riqueza monetária traz felicidade.

O dinheiro é uma armadilha terrível para enredar os incautos. Pobres dos que se deixam inebriar pelo engodo dos deleites mundanos oferecidos pelo dinheiro, irremediavelmente contaminado pelo vírus entorpecente dos convites da matéria!

Tão prejudicial quanto o vício arrasante do fumo, do álcool, do ópio, da maconha, do jogo, é o vício do apego ao dinheiro, pelo qual tudo faz e sacrifica o mísero ser dominado por ele.

O dinheiro pode levar de roldão a honra, o caráter, a dignidade, a moral do indivíduo, fazendo o perder um bem precioso, que é a encarnação.

Os vícios citados podem ser abandonados, e são conhecidos muitos casos de recuperação, mas o escravo do dinheiro, o ególatra, o sovina, o armazenador argentário que o quer só para si, egoisticamente, a fim de usufruí lo, desfrutá lo nababesca e criminosamente, ou para gozá lo de forma doentia, no seu volume acumulado, este é realmente um caso perdido, um infeliz que encontrou o seu deus   matéria, e o há de sorver, inapelável mente, até o último segundo da existência.

Abandonar, pois, a vocação, para correr atrás do dinheiro, pode ser um erro de clamorosas consequências. Mais vale o pouco e produtivo, no sentido da evolução, do que o muito e destrutivo.
A vocação, de um modo geral, se manifesta como resultado da atividade exercida pelo espírito nas encarnações mais recentes. O espírito que tenha sido cientista, manifesta vocação para a ciência, como o artista, para a arte, o eletricista, para a eletricidade, e assim por diante. Em cada existência, mais experiência ele adquire e, pois, mais se aperfeiçoa na atividade a que se vem entregando.

O mundo está organizado para oferecer esferas de ação numerosíssimas a todas as vocações. Estas são necessárias, não só para quem as possui, como para aqueles que por elas são beneficiadas.
Assim, para exemplificar, o alfaiate artífice tanto colhe experiências e proventos com a sua profissão, como os seus clientes se beneficiam de uma obra que não sabem executar.

Como as peças de um relógio, cada indivíduo tem de assumir o seu lugar na vida e procurar fazer, do melhor modo possível, a sua tarefa vocacional.

Todos, quando encarnam, trazem a sua vocação. É a ambição desmedida que, muitas vezes, põe de lado o esforço orientado no sentido reto da vocação, para forçar a caminhada por outra vereda, aparentemente mais lucrativa. Daí registrarem se os grandes fracassos, cujas origens ficam para trás, na sombra de atos imprudentes do passado.

A inteligência Universal está presente em toda parte, e cada ser se move no seu oceano de Sabedoria, com uma trajetória definida. Se o mau uso do livre arbítrio não opuser dificuldades a que o espírito prossiga, serenamente, na sua jornada, pode considerar se vitoriosa a encarnação consumada, e novos horizontes serão descortinados na vida espiritual.

Encontram se pessoas que possuem várias vocações, o que lhes permite escolher uma ou mais delas para a sua profissão. As vocações são atributos do espírito oriundos do seu próprio merecimento, conquistados pelo seu esforço na cadeia imensa de suas reencarnações.

A vocação revelada na existência terrena não é a única que o espírito possui, mas foi aquela que ele, por conveniência, gravou no plano astral em seu subconsciente, para manifestar se após a reencarnação.

Há tarefas no mundo muito mais árduas umas do que as outras, e os que se encontram em situações desfavoráveis, costumam revoltar se com elas por falta de esclarecimento. Reconhecendo que cada um tem o que merece, o papel do Racionalismo Cristão não é apagar as falhas que produziram o imerecimento, coisa impossível, face às leis imutáveis, mas aconselhar novas práticas no viver de cada dia, para que o futuro seja coroado das melhores perspectivas.

A vocação convida o indivíduo a situar se numa esfera de ação em que poderá colher os frutos espirituais mais rendosos na sua experiência terrena.

As vocações podem ser desvirtuadas, quando fortes tendências individuais dominem a força de vontade. Quando essas tendências pendem para o lado mau, surgem, como exemplo, os habilidosos batedores de carteira, os técnicos do roubo, os engenhosos planos usurpadores, a ciência do crime.

Todos os espíritos encarnam para praticar o bem, para serem bons; fora disso estão deslocados da sua esfera de ação, submersos no lado das mazelas terrenas e agravando a sua situação moral.

Viver, todos vivem; o difícil é saber viver. Viver em prejuízo próprio, acarretando sofrimentos para o futuro, é uma, insensatez. No entanto, a grande maioria vive como louca, num estado de semi inconsciência, praticando, a cada passo, os atos mais desatinados e abomináveis.

A maioria das pessoas tem medo de conhecer a Verdade, para não entrar em choque com a própria consciência, tão certa está de andar praticando o mal. Mas da Verdade ninguém escapa, e em dias que virão nesta existência física ou, depois, na Astral, ela resplandecerá, sem qualquer possibilidade de ficar oculta. O desinteresse pelo seu conhecimento somente servirá para a prática de novos erros.

Limitar se o indivíduo à sua vocação, não significa estar ele imune de incorrer em alguma falta derivada do uso do livre arbítrio, mas esse critério poderá servir para cumprir a sua missão terrena com as melhores perspectivas de êxito.

Forçoso é reconhecer que as probabilidades que tem o indivíduo de descambar pela falência moral, durante a trajetória terrena, são muito maiores do que as de sucesso. Isso porque a tendência da criatura encarnada é a de materializar se, cada vez mais, se não tiver um acervo espiritual valioso.

Os convites da matéria são inúmeros e fascinantes, e se apresentam bastante dominadores para quem não disponha dos recursos de defesa. Esses recursos se encontram nos ensinos espiritualistas e, mais ou menos adormecidos, na contextura do próprio espírito, os quais precisam ser vivificados pelo trabalho diário na esfera de ação de cada indivíduo.

A influência materialista está presente nas mentes de quase todos os encarnados, com a ajuda das religiões, que primam em apresentar imagens palpáveis para serem adoradas.

Na esfera de ação de cada um, não estão incluídos os atos que aberrem contra a Verdade, e se se manifestam, é porque a mente materializada ainda os conserva.

Os afins se atraem. Deste modo, os que pensam materializadamente achegam se uns aos outros e formam comunidades poderosas, cujos erros só em séculos podem ser desfeitos, séculos de dores, de experiências duras, colhidas nos desvios da contraprudência.

Para cada esfera de ação, a criatura se prepara no Plano Astral respectivo, de maneira a nela operar se, de modo salutar e construtivo, o desenvolvimento de atividades úteis, para o benefício geral.

Se, em lugar disso, a criatura age em sentido contrário, movida por interesses subalternos, escusos e corruptores, está procedendo insensata, leviana e dolosamente, em detrimento da evolução.

Urge compreender bem esse fato, para que não se incida, conscientemente, em erro. Deve haver um sentido de alerta permanente para não se errar. A mente precisa estar sempre preparada para reagir contra os maus pensamentos, os de fraqueza, os de negligência, os desabonadores da conduta.

As pessoas no mundo estão cercadas de perigos e ciladas, tornando se, por isso, indispensável que se previnam contra os assaltos imprevistos, os ataques sorrateiros, as picadas venenosas. Se bem que se encontrem almas esclarecidas no torvelinho da vida, a realidade é que a maldade predomina nos conglomerados humanos, em que a maioria corre atrás, avidamente, do açambarcamento, dominada pela ânsia de aumentar haveres, sem escrúpulos, sem olhar se lesa ou deixa de lesar.

Evidentemente ninguém vem encarnar, para proceder dessa condenável forma, mas, em aqui chegando, a maioria dá expansão aos atributos negativos da alma, rejeita idéias evolutivas que lhe pareçam pouco práticas, e se atira, sofregamente, às conquistas terrenas, completamente cega da visão espiritual.

Esse quadro, porém, não representa uma contingência imperativa de um curso inevitável. Se assim fosse, de nada adiantaria o preparo feito no Plano Astral para que a criatura encarne perfeitamente munida dos elementos morais que, com esforço, a farão triunfar em sua esfera de ação, triunfar espiritualmente, não deturpando a preparação recebida, não esmorecendo diante das dificuldades interpostas, não se deixando aniquilar em face do sofrimento.

Neste alambique depurador, todos terão de carregar, em sentido simbólico, a sua cruz. Para uns é mais leve do que para outros, mas também é fácil entender que uns tivessem praticado menos erros no passado do que outros.

Todas essas cruzes simbólicas poderão ser leves, no futuro, se cada um procurar viver contente no seu campo de ação com a sua profissão, desejoso de esmerar se nela, agindo sempre com honestidade, consciente de que é um ser ativo ao serviço de uma Causa, cumprindo a lei da Evolução Universal.

Esferas de Ação
Por Luiz de Souza

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