A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

O Trabalho – Por Luiz de Souza

É máxima corrente que "a ociosidade é mãe de todos os vícios." Daí poder se considerar o trabalho como uma necessidade higiênica. Trabalhar é viver. Na realidade, sentindo e observando o movimento contínuo do Universo, não é difícil concluir que o trabalho e a vida se situam paralelamente.

Os seres humanos dispõem para a sua subsistência, do ar, da água e de substâncias nutrientes. O ar nada custa, pela água paga se, apenas, a sua adução, mas os alimentos têm de ser pagos e consomem uma parcela importante do orçamento doméstico. A civilização trouxe, ainda, uma série enorme de despesas, que aumentam, na medida do desenvolvimento e do aspecto material da vida.

Tal sistema obriga a trabalhar, mesmo os que não amam o trabalho. Os que se furtarem a essa norma, sofrerão as conseqüências, pois a Inteligência Universal não cessa um instante de trabalhar para manter a sua organização sideral e cósmica em pleno funcionamento; do mesmo modo as suas partículas, representadas pelos indivíduos, terão de ser ativas, operosas, diligentes, e hão de conservar se, forçosamente, em contínua vibração.

Durante o sono, é a matéria que descansa, que se refaz dos desgastes físicos produzidos pela ação das toxinas, mas o espírito, que nessa ocasião se afasta do corpo denso material, permanece alerta, vigilante, sem necessidade de repouso.

O trabalho é uma dádiva da natureza que habilita o ser a praticar o bem, a beneficiar o próximo, a concorrer para o progresso geral. O trabalho fortalece o espírito e o engrandece. É por meio dele que as criaturas produzem, amparam, constroem. A missão ou a tarefa é bem cumprida quando o trabalho é bem feito. Ele traz satisfação, alegria, contentamento. Enquanto se trabalha, a mente concentra se e a concentração é dom que se desenvolve.

É pelo trabalho que se adquire experiência, disciplina, senso de responsabilidade e se desperta a noção dos deveres. Ele nos dá paciência e tolerância, além do conceito da transigência, pela necessidade de harmonizar, acomodar interesses, de atender às conveniências de terceiros.

Quem trabalha, frutifica, dá exemplos, ensina e prepara novos trabalhadores. Estes produzem a riqueza, o conforto, o bem estar e as facilidades de comunicação entre os seres, para fins culturais, para os intercâmbios, para as regalias terrenas.

Os que não trabalham são parasitas sociais, são elementos nocivos, espúrios da ordem geral. Sofrem de insatisfação, de tédio, de ceticismo, provocados pelo vazio interior. Esses, além de não ajudarem a puxar o carro da vida, são arrastados como peso morto. Não colaboram com a coletividade, apenas se servem dela. É uma condição penosa que se mantém pela falta de esclarecimento, de compreensão, de espiritualidade.

O trabalho honesto é sempre honroso, seja de que natureza for. Ele é necessário e útil para a comunidade, que precisa que cada um se coloque no seu posto, conscientemente, na certeza de que está cumprindo tarefa de valor.

Uns ganham menos, outros mais, na programação funcional das atividades, por ser indispensável estabelecer, na vida de relação, planos diferentes para diferentes misteres, mas no fundo todos os trabalhos têm um valor intrínseco equivalente, do ponto-de-vista ideal. Naturalmente os trabalhos desonestos que produzem a alimentação de vícios e a corrupção, não estão incluídos nesta ordem.

Nada adianta ao cientista tentar pôr em prática os seus conhecimentos, se ele não tiver quem lhe ponha em ordem os instrumentos, quem lhe faça as roupas, quem lhe prepare os alimentos. Como se vê, os tipos de trabalho estão na dependência uns dos outros, donde ressalta a equivalência dos mesmos.

A civilização cria uma falsa concepção com respeito aos ganhos, por via da qual os mais bem remunerados se julgam melhores do que os outros, na classificação do trabalho. Há por certo, necessidade de chefes e subordinados, o que não significa, de modo algum, diminuição no alternado desempenho de cada um, pois o chefe nada teria que fazer se não dispusesse dos seus subordinados. Assim, o trabalho deve ser encarado com superioridade, de um plano elevado, sabendo se que ele é tão necessário aos homens, como a luz do Sol.

Em cada setor de trabalho o indivíduo colhe determinadas experiências, havendo necessidade, portanto, com o correr das reencarnações, de variar de trabalho, o que se dá, realmente, com os sucessivos renascimentos, para que as experiências se multipliquem, se renovem e ampliem.

Deste modo, com o tempo, elas se somam, apuram o adestramento, habilitam e aumentam a capacidade produtiva dos seres. Sem trabalho, tal desenvolvimento se torna impossível, razão por que tem ele de fazer parte integrante da vida.

O trabalho, praticado com honestidade, lapida o caráter, enobrece as atitudes, desenvolve o fator confiança, revigora a força moral e torna o indivíduo respeitado no meio em que vive. É preciso ter amor ao trabalho, por ser ele um gerador de virtudes, um estimulante de iniciativas, um motivo de apreciação para os conviventes.

A religião da humanidade deveria ser a religião do trabalho, que, bem cultivada, bem compreendida e executada, daria ao mundo mais êxito na formação espiritual dos povos, isto por ser o trabalho uma fonte permanente de inspirações, pelo seu paralelismo com a vida.

O trabalho honesto, disciplinado, construtivo, proveitoso, é um dos lemas do Racionalismo Cristão, que vê nesse exercício um processo hábil de desenvolvimento da espiritualidade. Tudo quanto se fizer para promover o progresso espiritual, tem nessa Doutrina o mais completo e seguro apoio. Ao contrário disso, nenhum endosso moral pode ela emprestar ao fomento do mercantilismo religioso, à materialidade dos procedimentos provenientes da ausência da consciência espiritualizada.

O mundo não se salvará da desordem, da ruína moral, dos conchavos interesseiros, dos golpes da aventura, da exploração das massas, das guerras fratricidas geradas por países que se consideram cristãos, enquanto a espiritualidade não imperar no seio da humanidade, coisa que não têm podido realizar as religiões materialistas que se vangloriam dos seus milhões de adeptos.

Esse estado anormal do mundo tem por princípio o trabalho empregado no mau sentido, quando os seus agentes, em lugar de ajustá lo à organização sonora das vibrações Astrais, prefere, animalizadamente deixar se atrair pelo magnetismo terreno, tirar partido das confusões, locupletar se do alheio, sem que as entidades religiosas, mal preparadas espiritualmente, disponham de meios para pôr cobro a semelhante situação.

Falta nas religiões um Código de Princípios, em que apareça o trabalho colocado em primeiro plano, de modo que sintam todos os seus asseclas; a verdadeira importância da sua aplicação racional na vida.

Já que são contadas, por milhares, as seitas e religiões; já que se ufanam de possuir milhões de "ovelhas"; grande responsabilidade repousa sobre os seus dirigentes por não modificarem a orientação dessas almas pastoreadas, consentindo que continuem a corroborar com os que avaliam o sentido do trabalho.
O esforço tem de ser comum entre todos os que, sinceramente, almejam a transformação moral dos habitantes da Terra, os quais, no momento, estão entregues, na sua maioria, ao desregramento, fazendo do trabalho um meio de corrupção e desvirtuando o da sua verdadeira finalidade.

De bandeira desfraldada está o Racionalismo Cristão empenhado na campanha de moralização de hábitos e costumes, de recuperação do caráter defraudado, de reposição dos preceitos deturpados de Jesus na sua natural elevação, em que o trabalho honrado, eficiente, útil e prestimoso tenha a sua consagração devida e perene, na nova estruturação por que há de passar a humanidade, em dias que estão para chegar, com o advento desses Princípios.

O Trabalho
Por Luiz de Souza
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