A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

Erosão - Por Eng.Civil Luiz de Souza

Nos dias que correm, principia a ser preocupação predominante dos técnicos dos departamentos agrícolas do país, a ação erosiva sobre o solo, consequente da devastação das matas, da influência dos ventos, da livre torrencialidade das águas provenientes das chuvas.

Pouco temos feito, até aqui, afim de que medidas de ordem prática tenham sido, previdentemente, postas em execução no sentido de afastar, enquanto é tempo, os efeitos desastrosos da erosão no solo, que, com o decorrer doa anos, vão se pronunciando pela inobservância de determinados ensinos que as nossas corporações técnicas e oficiais se esforçam por divulgar.


Os nossos lavradores, iniciando as suas lavouras, encontram, em terras virgens, uma fertilidade que os entusiasma, sem que lhes ocorra, em grande maioria dos casos, e nessa altura, que essa exuberante fertilidade é uma riqueza que pode rapidamente desaparecer, desde que à terra não seja dado o amparo necessário e racional, que proteja essa mesma riqueza da ação de elementos que a venham destruir.

Temos visto o exemplo disso, o exemplo de terras fertilíssimas perderem a sua ação fecundante, em prazo relativamente curto, no Estado de São Paulo, onde mais se tem cuidado da lavoura, e também onde por não haverem, em tempo oportuno, cogitado de eliminar os nefastos efeitos da erosão, baixarem as colheitas do café, de 90 para 30 arrobas por mil pés, e estas ultimas, ainda assim, conseguidas à custa de apreciado dispêndio em adubação química. E não só em São Paulo, mas ainda em grande parte do nosso litoral já se vêem assinalados os traços funestos da erosão.

As matas, como é sabido, conservam e aumentam a fertilidade da terra em consequência do húmus produzido pela vegetação, o qual penetre, por infiltração, na camada terrosa. Tratando-se de matas virgens, fatalmente essa camada terá que ser mais espessa e rica em húmus, por efeito da ação secular da infiltração do elemento vegetal fertilizante. Removidas as madeiras que compõe as matas, aí fica o solo, geralmente, exposto ao tempo, despido, desnudado. Extraído, para e terminada cultura, todo o emaranhado de raízes que mantêm agregadas umas às outras as partículas terrosas, esfarelados os torrões, aí fica a terra solta, pulverizada. O vento sopra impetuoso, e, especialmente nas estiagens, transporta para os vales, volumes consideráveis dessas terras fertilizadas; vem o período das águas e as enxurradas lavam toda a superfície, formando sulcos no solo, e transportando, por sua vez, também para os vales, outros tantos volumes consideráveis dessas mesmas terras fertilizadas. Mais por essa razão são sempre férteis os vales, em prejuízo das encostas e planaltos, que uma vez desnudados vão perdendo, de ano em ano, e pela ação dos elementos citados, toda a sua capacidade de produção ficando transformadas regiões anteriormente férteis, em áridos desertos, em pura perda dos interesses nacionais.

Aqui no Brasil, ainda assim, diante dessa imensidão territorial, os efeitos da erosão, por enquanto, não são demasiadamente graves e impressionantes, como o serão se não adotarmos, desde logo, neste particular, um rumo novo, levando em conta o futuro, quando, ao em vez de quarenta milhões de habitantes, houvermos duzentos, trezentos ou quatrocentos milhões! Os americanos do Norte, com uma extensão territorial semelhante à nossa e com cento e vinte milhões de almas, já compreenderam bem toda a extensão e gravidade do mal. Eles, lá, pelo desaviso de seus antepassados, como presentemente vem acontecendo com os nossos desavisados patrícios brasileiros, possuem, hoje, uma área tornada estéril pela erosão, tão grande como as áreas somadas dos nossos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. As últimas administrações daquele país, impressionadas com essa situação, não tiveram dúvidas em atacar de frente o problema, mobilizando, para esse fim de evitar a continuação do mal, um capital, anual, que equivale a dez vezes todo o dinheiro em circulação no Brasil, ou seja, uma quantia, fantástica, superior a quarenta milhões de contos de réis!

Não precisamos, pois, deixar passar cem anos para então aprender, ao fim deles, a experiência que os norte-americanos já colheram. Aproveitemos deles essa dura experiência e ponhamos nós, desde já, a nossa ação inteligente em movimento, para evitar, quando menos, que os nossos descendentes nos culpem, com justa razão, de negligentes, de desavisados, ou pior ainda, de inconscientes! Homens da lavoura; homens que lidais com a terra, esforçai-vos por livrá-la da erosão, mesmo que isso vos custe um pouco agora, pois assim assegurais aos vossos descendentes, como atestado da vossa previsão e patriotismo, a herança dadivosa da terra fertilizada que vos deu fortuna e prosperidade! Ligai a esse ato um pouco de desprendimento estimulado pelo vosso valor, não visando, avaramente, o máximo de lucros imediatos, superiores aos que sejam razoáveis, tendo em vista que eles deverão conservar-se num nível compensador, não só durante a fase inicial das primeiras colheitas, como durante muitas dezenas de anos, ou mesmo séculos!

O reflorestamento vem sendo apregoado, com insistência, como uma necessidade que se impõe; preciso é que se compreenda que reflorestar é construir para o futuro. Os americanos estão introduzindo, com sucesso, um sistema de combate à erosão, reflorestando o país e construindo obras especiais de repressão à ação do vento e das águas pluviais; fazem parte dessas obras a terraplenagens, muretas, diques, valetas, etc., distribuídas em posição transversal à inclinação do terreno. Para os climas quentes e temperados fazem-se estudos de uma vegetação rasteira, de origem africana, que além de combater a erosão possui a virtude de adubar o solo com a abundância dos seus elementos fertilizantes.

Todo o esforço dos amanhadores da terra empregado no sentido de evitar a erosão do solo, há de ser bem correspondido pela natureza pródiga do nosso solo privilegiado. Resta ainda acrescentar que a nação dispõe, hoje, à testa dos assuntos agrícolas, na pessoa do Sr. Ministro da Agricultura, uma das capacidades mais completas da geração atual. Além dos seus aprofundados conhecimentos teóricos, dispõe de vastíssimo cabedal de experiência prática. É como no ditado inglês: “The right man in the right place”. Cercado de técnicos abalizados dá-lhes, numa visão superior, todos os recursos de que necessitam para, cada vez mais, apurarem os seus conhecimentos especializados, e com o que, mais eficientemente, prestam o concurso de orientar e esclarecer a coletividade produtora do país, inspirados em uma alta finalidade cívica e patriótica.
Erosão
Por Eng.Civil Luiz de Souza

Fonte: Pesquisa Livre na Internet