Nos dias que
correm, principia a ser preocupação predominante dos técnicos dos departamentos
agrícolas do país, a ação erosiva sobre o solo, consequente da devastação das
matas, da influência dos ventos, da livre torrencialidade das águas
provenientes das chuvas.
Pouco temos
feito, até aqui, afim de que medidas de ordem prática tenham sido,
previdentemente, postas em execução no sentido de afastar, enquanto é tempo, os
efeitos desastrosos da erosão no solo, que, com o decorrer doa anos, vão se
pronunciando pela inobservância de determinados ensinos que as nossas
corporações técnicas e oficiais se esforçam por divulgar.
Os nossos
lavradores, iniciando as suas lavouras, encontram, em terras virgens, uma
fertilidade que os entusiasma, sem que lhes ocorra, em grande maioria dos
casos, e nessa altura, que essa exuberante fertilidade é uma riqueza que pode
rapidamente desaparecer, desde que à terra não seja dado o amparo necessário e
racional, que proteja essa mesma riqueza da ação de elementos que a venham
destruir.
Temos visto o
exemplo disso, o exemplo de terras fertilíssimas perderem a sua ação
fecundante, em prazo relativamente curto, no Estado de São Paulo, onde mais se
tem cuidado da lavoura, e também onde por não haverem, em tempo oportuno,
cogitado de eliminar os nefastos efeitos da erosão, baixarem as colheitas do
café, de 90 para 30 arrobas por mil pés, e estas ultimas, ainda assim,
conseguidas à custa de apreciado dispêndio em adubação química. E não só em São
Paulo, mas ainda em grande parte do nosso litoral já se vêem assinalados os
traços funestos da erosão.
As matas, como
é sabido, conservam e aumentam a fertilidade da terra em consequência do húmus
produzido pela vegetação, o qual penetre, por infiltração, na camada terrosa.
Tratando-se de matas virgens, fatalmente essa camada terá que ser mais espessa
e rica em húmus, por efeito da ação secular da infiltração do elemento vegetal
fertilizante. Removidas as madeiras que compõe as matas, aí fica o solo,
geralmente, exposto ao tempo, despido, desnudado. Extraído, para e terminada
cultura, todo o emaranhado de raízes que mantêm agregadas umas às outras as partículas
terrosas, esfarelados os torrões, aí fica a terra solta, pulverizada. O vento
sopra impetuoso, e, especialmente nas estiagens, transporta para os vales,
volumes consideráveis dessas terras fertilizadas; vem o período das águas e as
enxurradas lavam toda a superfície, formando sulcos no solo, e transportando,
por sua vez, também para os vales, outros tantos volumes consideráveis dessas
mesmas terras fertilizadas. Mais por essa razão são sempre férteis os vales, em
prejuízo das encostas e planaltos, que uma vez desnudados vão perdendo, de ano
em ano, e pela ação dos elementos citados, toda a sua capacidade de produção
ficando transformadas regiões anteriormente férteis, em áridos desertos, em
pura perda dos interesses nacionais.
Aqui no
Brasil, ainda assim, diante dessa imensidão territorial, os efeitos da erosão,
por enquanto, não são demasiadamente graves e impressionantes, como o serão se
não adotarmos, desde logo, neste particular, um rumo novo, levando em conta o
futuro, quando, ao em vez de quarenta milhões de habitantes, houvermos
duzentos, trezentos ou quatrocentos milhões! Os americanos do Norte, com uma
extensão territorial semelhante à nossa e com cento e vinte milhões de almas,
já compreenderam bem toda a extensão e gravidade do mal. Eles, lá, pelo
desaviso de seus antepassados, como presentemente vem acontecendo com os nossos
desavisados patrícios brasileiros, possuem, hoje, uma área tornada estéril pela
erosão, tão grande como as áreas somadas dos nossos Estados do Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. As últimas administrações daquele país,
impressionadas com essa situação, não tiveram dúvidas em atacar de frente o
problema, mobilizando, para esse fim de evitar a continuação do mal, um
capital, anual, que equivale a dez vezes todo o dinheiro em circulação no
Brasil, ou seja, uma quantia, fantástica, superior a quarenta milhões de contos
de réis!
Não
precisamos, pois, deixar passar cem anos para então aprender, ao fim deles, a
experiência que os norte-americanos já colheram. Aproveitemos deles essa dura
experiência e ponhamos nós, desde já, a nossa ação inteligente em movimento,
para evitar, quando menos, que os nossos descendentes nos culpem, com justa
razão, de negligentes, de desavisados, ou pior ainda, de inconscientes! Homens
da lavoura; homens que lidais com a terra, esforçai-vos por livrá-la da erosão,
mesmo que isso vos custe um pouco agora, pois assim assegurais aos vossos
descendentes, como atestado da vossa previsão e patriotismo, a herança dadivosa
da terra fertilizada que vos deu fortuna e prosperidade! Ligai a esse ato um
pouco de desprendimento estimulado pelo vosso valor, não visando, avaramente, o
máximo de lucros imediatos, superiores aos que sejam razoáveis, tendo em vista
que eles deverão conservar-se num nível compensador, não só durante a fase
inicial das primeiras colheitas, como durante muitas dezenas de anos, ou mesmo
séculos!
O
reflorestamento vem sendo apregoado, com insistência, como uma necessidade que
se impõe; preciso é que se compreenda que reflorestar é construir para o
futuro. Os americanos estão introduzindo, com sucesso, um sistema de combate à
erosão, reflorestando o país e construindo obras especiais de repressão à ação
do vento e das águas pluviais; fazem parte dessas obras a terraplenagens,
muretas, diques, valetas, etc., distribuídas em posição transversal à inclinação
do terreno. Para os climas quentes e temperados fazem-se estudos de uma
vegetação rasteira, de origem africana, que além de combater a erosão possui a
virtude de adubar o solo com a abundância dos seus elementos fertilizantes.
Todo o esforço dos amanhadores da terra empregado no sentido de evitar a erosão do solo, há de ser bem correspondido pela natureza pródiga do nosso solo privilegiado. Resta ainda acrescentar que a nação dispõe, hoje, à testa dos assuntos agrícolas, na pessoa do Sr. Ministro da Agricultura, uma das capacidades mais completas da geração atual. Além dos seus aprofundados conhecimentos teóricos, dispõe de vastíssimo cabedal de experiência prática. É como no ditado inglês: “The right man in the right place”. Cercado de técnicos abalizados dá-lhes, numa visão superior, todos os recursos de que necessitam para, cada vez mais, apurarem os seus conhecimentos especializados, e com o que, mais eficientemente, prestam o concurso de orientar e esclarecer a coletividade produtora do país, inspirados em uma alta finalidade cívica e patriótica.
Erosão
Por Eng.Civil Luiz de Souza
Fonte: Pesquisa Livre na Internet