A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

Questões Educacionais - Por Luiz de Souza

À medida que um povo evolui, preocupa-se mais e mais com as suas questões educacionais. O problema é daqueles que afere o índice de civilização. Se encararmos a situação atual do mundo, constataremos o baixo nível existente do desenvolvimento intelectual. A ausência de escolas acentua-se por toda a parte, senão que com mínimas exceções, em relação à massa total.

A uma baixa intelectualidade corresponde, via de regra, uma baixa espiritualidade, pela falta de refinamento e controle das emoções inferiores. As duas faculdades devem andar paralelas e equilibradas, refazendo-se ora uma, ora outra, ou as duas ao mesmo tempo, nas experiências periódicas das escolas planetárias através dos milênios.

O desnível destas duas faculdades faz com que presenciemos o caos em que vivemos, sob certo aspecto, e explica porque medram na Terra cerca de oito mil seitas religiosas, a maioria das quais a incutir no espírito humano, as mais grosseiras concepções.

A educação intelectual, ou seja, a instrução obriga a trabalhar o raciocínio dentro de pontos de vista comuns, daí resultando uma automática codificação de corolário que unem, por laços afins, os indivíduos.

As guerras são a expressão mais nítida de uma cegueira que reflete mau estado espiritual, mas que tem sua origem, suas raízes profundas, no baixo nível intelectual. O indivíduo que não estuda, não lê, não medita, atrofia, por falta de estímulo e de exercício, as faculdades inatas do poder intelectual.

Ensinar pelo dever de ensinar, por obrigação profissional, pela necessidade de prover o sustento próprio apenas, como meio de vida, é prática que não resolve, satisfatoriamente, o grave problema educacional.

A Ciência de ensinar é vocação, é qualidade transcendente, é atributo de alto valor, conquistado, desde priscas eras, à custa de renúncia, de abnegação. Por isso, cortar uma vocação, numa prova experimental, especialmente quando esta se liga diretamente à ciência de ensinar, é crime inafiançável perante o juízo eterno, pelo qual se responde no seu devido tempo.

Falta-nos, como princípio básico de educação, uma instituição oficial que tivesse por fim o estudo das vocações. Com o devido preparo psicológico, as vocações podem ser, nas escolas, descobertas, analisadas e selecionadas quanto à natureza e a intensidade. A segunda etapa teria de ser essa de chamar o governo a si o encargo de, gratuitamente, promover e custear a educação completa dos seres vocacionais.

A vocação é um talento e o talento é uma riqueza. Se de um lado procura-se o ouro, avidamente, nas entranhas da terra, com muito maior razão dever-se-ia explorar os tesouros contidos nas locações. Ainda não se deu, talvez por falta de reflexão, a importância ao assunto que ele realmente tem. Nenhuma outra riqueza pode ser comparada a esta que, no entanto, se perde na sua percentagem maior, quiçá pela incúria, pelo desleixo mental, pela nenhuma atenção que se dá ao seu verdadeiro valor.

O aproveitamento das qualidades espirituais e humanas deveria ser levado ao máximo. Nenhuma justificativa de caráter financeiro seria de se admitir para explicar o cruzamento de braços, ante um problema que pode ser considerado fundamental, na ordem dos fatores cívicos, na orbita dos princípios básicos que alicerçam a civilização.

É tempo de sairmos da era das improvisações. Improvisam-se administradores, tirando-os de dentro de um círculo relativamente diminuto, de relações pessoais, de organismos facciosos, sem obedecer ao critério supremo da habilitação especializada, com fundamento na vocação, em grande parte, por falta absoluta de meios, ou pela ausência da disciplina que faculte essa possibilidade.

O resultado é esse desequilíbrio permanente que observamos em todos os quadrantes da atividade humana. Estamos no interior de um círculo vicioso; os administradores não promovem o fomento vocacional; as vocações, de um modo geral, não se revelam nos administradores.

Quando a vocação aflora, isoladamente, aqui e ali, o administrado é lançado ao meio, quase como um super homem, refletindo a raridade da espécie e não se aproveitando os seus dons, na sua amplitude, por falta de equipe.

Diz o sábio adágio que “uma andorinha só não faz verão”. Eis o caso. Não temos equipe, porque a equipe se faz por seleção, e esta tem de ser operada, se quisermos possuir uma intelectualidade capaz de governar o mundo, na escola, no desabrochar das vocações, que devem ser estimuladas, cuidadas e desenvolvidas, com o calor da consciência despertada e com o entusiasmo de uma compreensão sadia.

Questões Educacionais - Por Luiz de Souza
Fonte: Pesquisa Livre na Internet - livro páginas antigas - 1954