À medida que um
povo evolui, preocupa-se mais e mais com as suas questões educacionais. O
problema é daqueles que afere o índice de civilização. Se encararmos a situação
atual do mundo, constataremos o baixo nível existente do desenvolvimento
intelectual. A ausência de escolas acentua-se por toda a parte, senão que com
mínimas exceções, em relação à massa total.
A uma baixa
intelectualidade corresponde, via de regra, uma baixa espiritualidade, pela
falta de refinamento e controle das emoções inferiores. As duas faculdades
devem andar paralelas e equilibradas, refazendo-se ora uma, ora outra, ou as
duas ao mesmo tempo, nas experiências periódicas das escolas planetárias
através dos milênios.
O desnível destas
duas faculdades faz com que presenciemos o caos em que vivemos, sob certo
aspecto, e explica porque medram na Terra cerca de oito mil seitas religiosas,
a maioria das quais a incutir no espírito humano, as mais grosseiras
concepções.
A educação
intelectual, ou seja, a instrução obriga a trabalhar o raciocínio dentro de
pontos de vista comuns, daí resultando uma automática codificação de corolário
que unem, por laços afins, os indivíduos.
As guerras são a
expressão mais nítida de uma cegueira que reflete mau estado espiritual, mas
que tem sua origem, suas raízes profundas, no baixo nível intelectual. O
indivíduo que não estuda, não lê, não medita, atrofia, por falta de estímulo e
de exercício, as faculdades inatas do poder intelectual.
Ensinar pelo dever
de ensinar, por obrigação profissional, pela necessidade de prover o sustento
próprio apenas, como meio de vida, é prática que não resolve,
satisfatoriamente, o grave problema educacional.
A Ciência de
ensinar é vocação, é qualidade transcendente, é atributo de alto valor,
conquistado, desde priscas eras, à custa de renúncia, de abnegação. Por isso,
cortar uma vocação, numa prova experimental, especialmente quando esta se liga
diretamente à ciência de ensinar, é crime inafiançável perante o juízo eterno,
pelo qual se responde no seu devido tempo.
Falta-nos, como princípio
básico de educação, uma instituição oficial que tivesse por fim o estudo das
vocações. Com o devido preparo psicológico, as vocações podem ser, nas escolas,
descobertas, analisadas e selecionadas quanto à natureza e a intensidade. A
segunda etapa teria de ser essa de chamar o governo a si o encargo de,
gratuitamente, promover e custear a educação completa dos seres vocacionais.
A vocação é um talento
e o talento é uma riqueza. Se de um lado procura-se o ouro, avidamente, nas
entranhas da terra, com muito maior razão dever-se-ia explorar os tesouros
contidos nas locações. Ainda não se deu, talvez por falta de reflexão, a
importância ao assunto que ele realmente tem. Nenhuma outra riqueza pode ser
comparada a esta que, no entanto, se perde na sua percentagem maior, quiçá pela
incúria, pelo desleixo mental, pela nenhuma atenção que se dá ao seu verdadeiro
valor.
O aproveitamento
das qualidades espirituais e humanas deveria ser levado ao máximo. Nenhuma
justificativa de caráter financeiro seria de se admitir para explicar o
cruzamento de braços, ante um problema que pode ser considerado fundamental, na
ordem dos fatores cívicos, na orbita dos princípios básicos que alicerçam a
civilização.
É tempo de sairmos
da era das improvisações. Improvisam-se administradores, tirando-os de dentro
de um círculo relativamente diminuto, de relações pessoais, de organismos
facciosos, sem obedecer ao critério supremo da habilitação especializada, com
fundamento na vocação, em grande parte, por falta absoluta de meios, ou pela ausência
da disciplina que faculte essa possibilidade.
O resultado é esse
desequilíbrio permanente que observamos em todos os quadrantes da atividade
humana. Estamos no interior de um círculo vicioso; os administradores não
promovem o fomento vocacional; as vocações, de um modo geral, não se revelam
nos administradores.
Quando a vocação
aflora, isoladamente, aqui e ali, o administrado é lançado ao meio, quase como
um super homem, refletindo a raridade da espécie e não se aproveitando os seus
dons, na sua amplitude, por falta de equipe.
Diz o sábio adágio
que “uma andorinha só não faz verão”. Eis o caso. Não temos equipe, porque a
equipe se faz por seleção, e esta tem de ser operada, se quisermos possuir uma
intelectualidade capaz de governar o mundo, na escola, no desabrochar das
vocações, que devem ser estimuladas, cuidadas e desenvolvidas, com o calor da
consciência despertada e com o entusiasmo de uma compreensão sadia.
Questões Educacionais - Por Luiz de Souza